sábado, 29 de outubro de 2022

UM MOMENTO DA VIDA REAL


A noite já cobria a cidade, naquela sexta feira quente de Agosto, e ele quase sozinho  na plataforma da gare do Oriente, esperava  pelo inter cidades. Vindo daquela cidade que o fascinava, trazia até si, uma mulher que o fazia sentir um adolescente naquele momento, quem diria que após o meio século de vida, ainda podia sentir aquela ansiedade, aquele nervoso miudinho, o sorriso tonto no rosto, e aquele brilho no olhar, que antecipa a felicidade do primeiro encontro. Ao longe viu a luz da máquina que se aproximava, era a primeira vez que iam estar cara a cara, tinham sido muitos dias, muitas horas de conversa por todos os meios actualmente disponíveis, por isso não sentia que era um encontro às cegas, mas sim o encontro desejado com alguém que tão bem conhecia, e que desejava ardentemente abraçar.

O comboio finalmente parou na estação, e ela saiu dele com a sua mala de viagem, foi ao seu encontro, ambos sorriam, abraçaram-se e logo ali deram o seu primeiro beijo, olharam-se e sem palavras mostraram toda a felicidade que sentiam em estar ali os dois juntos, foi naquele exacto momento que soube que ela era o amor que buscava à muito tempo.

Saíram da gare de mãos dadas, trocando mimos e palavras que ansiavam à muito dizer olhos nos olhos, quem os visse naquele momento, jamais diria que era a primeira vez que estavam juntos, mas sim um casal que se reencontrava ao fim de um tempo afastados, entre eles existia aquela química que faz magia, e que por ser tão rara e difícil de encontrar, faz tudo ser especial, dá pelo nome de.... Cumplicidade.

Foram dias, meses inesquecíveis, separados entre duas cidades, juntos por essa magia que poucos têm e ainda menos compreendem.

Mas com o tempo, a distância cria saudade, a saudade traz atritos, ciúmes tolos, a frustração de não ter quem se ama ao lado, a impotência da distância, as palavras a meio, os desejos, as vontades e sonhos adiados, um dia a dia que não se compadece com quem se ama, por muito que se esforcem e lutem,e foi assim que tudo se foi desmoronando, não por falta de amor, mas sim por decisões adiadas, por medos, por esta vida que brinca com quem se ama. 

E esta história que tinha tudo para ter um final feliz, ficou a meio, deixou-o suspenso no tempo, alheio a tudo que o rodeava perdeu a capacidade de amar, de sorrir de ser feliz, havia uma frase que tinha ouvido e que se adaptava na perfeição a esta história, embora não fosse católico ou professa-se qualquer tipo de religião,

"Para fazeres Deus rir, basta contar-lhe os teus planos", 

Agora perdido dentro de si, com todos os "ses", que o atormentam nos momentos de solidão, que são muitos, vive sem viver, anda sem destino, numa luta constante para não se perder. 

Por vezes dá por si, na plataforma daquela gare, que tal como lhe trouxe a felicidade, foi a mesma que a levou, agora sozinho sem esperar ninguém, já sem o sorriso ou brilho no olhar, apenas com os momentos e a saudade de quem gostaria que um inter cidades voltasse a parar de novo no seu coração.

J.C.2022

Não vinha aqui há muito tempo, mas este será sempre o meu porto de abrigo, que guardo só para mim,nunca está esquecido nem abandonado, apenas está em repouso, um espaço valioso só meu, como escrevi no primeiro poste deste blogue. 

J.C.2022 



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