Tinha atingido limite,o limite da solidão,da luta,do isolamento,da clausura,do silêncio
Saber que nada podia dar,que nada tinha para dar,que afinal não vivia,estava no limite
Não conseguia pensar em viver a vida num estado semi-vegetativo,sem horizontes,sem futuro,sem sonhos ou janelas que se abrissem,estava no limite
Não se conseguia ver a desperdiçar o tempo que a vida lhe dava,sem poder fazer mais que o mínimo que forçosamente estava destinado nos últimos tempos,cansado de ser um D. Quixote a lutar contra moinhos de vento,que eram monstros que nunca tinham fim,e se na sua insanidade pensava que tinha derrotado um,logo mais a frente apareciam mais dois ou três,perdeu o sorriso,perdeu a vontade,e perdeu o sentido de viver,estava no limite.
As palavras de encorajamento que lhe chegavam,já não faziam qualquer tipo de sentido,todos o faziam com as melhores intenções,mas só ele podia sentir o que o rodeava,no silêncio das paredes,no vazio frio da mesa,tinha por vezes que pensar que eram palavras amigas,pois por vezes a irritação já tomava conta dele,estava no limite.
Caminhava sem rumo ou direcção,sem sentido ou objectivo,ia a lugar nenhum,não saía do sítio,estava com a vida parada,e sabia que tanto lutara,que tanto fazia,que tanto sofria,mas que isso pouco ou nada valia,ainda lhe valiam as palavras ou os silêncios que na sua mente ganhavam formas e que iam directas para aquela folha de papel branco,era esse o peso da balança que ainda o mantinha lúcido e equilibrado,talvez demasiadamente lúcido,para saber que estava,no limite.
Deu por si a caminhar entre os carris,sentiu através dos sapatos a vibração do que se aproximava,ouviu o seu apito ao longe,e a luz que ainda era um mero ponto no horizonte,encontrava-se numa das encruzilhadas da linha,teria de escolher a que iria seguir,pela primeira vez na vida não estava fácil a decisão,estavam em causa os princípios pelos quais se tinha regido até ai,mas também estava dentro dele o vazio que o habitava á uns tempos e que tinha posto tudo em causa,neste momento deixara para trás,tudo o que sempre achava que importava,as suas ideias,os seus ideais,enfim tudo o que sempre o acompanhara até aqui,só tinha uma certeza.......sabia o que não queria,mesmo que isso fosse contra tudo o que sempre tinha defendido,não queria uma vida assim e isso era a única certeza que tinha,pois não estava no limite........tinha atingido todos os limites,e ali ficou parado,indeciso quanto a escolha que iria fazer,ou um passo para o lado ou manter-se parado?tinha tempo e podia escolher.....ainda.
J.C.(2014)
PASSARAM 4 ANOS E TUDO PARECE TER VOLTADO AO MESMO...
Muito intetessante este post.
ResponderEliminarArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Obrigado Arthur,apenas escrevo o que sinto,usando uma frase que ouvi à pouco tempo num encontro de escritores amadores....("...todos somos escritores,basta escrevermos o que sentimos,a diferença entre os que escrevem e os outros,é que esses são preguiçosos de mais para escreverem"...).
EliminarObrigado pelas palavras,abraço