domingo, 5 de abril de 2015

O PEDINTE

Sentado nas pedras,agora quentes,do passeio,que o sol madrugador tinha aquecido,depois de se manterem frias toda a noite,separadas do seu corpo,apenas por um pedaço de cartão.
Ali estava ele de mão estendida,olhos baixos,não de vergonha,mas apenas de indiferença por quem passava,murmurando um "muito obrigado" ás miseras moedas que algum  mais distraído deixava cair na palma da sua mão.
Optara por baixar os olhos e se perder nos seus pensamentos,assim evitava os olhares de repugnância,de pena,de vergonha e o que mais lhe custava ver,o da indiferença.
Lembrava-se que também ele,não á muito tempo,tinha a mesma postura,o mesmo olhar em relação,ao que agora era,um pobre pedinte.
Dentro dos seus fatos de marca,passava sem julgar algum dia possível se encontrar naquela situação,e pior ainda,tinha em alguns casos até feito juízos ou julgamentos,daquelas pessoas que não conhecia e das quais agora fazia parte,sem nunca ter parado para pensar o "porquê" de elas,ali estarem.
A vida tem formas de nos mostrar o quanto somos insignificantes,o quanto tudo é efémero e passageiro.
E agora ali estava ele mendigando umas moedas para poder comer,ele que tinha frequentado os melhores restaurantes da cidade,nas melhores companhias,um homem bem sucedido na vida,que pensava que o seu mundo era inabalável e eterno.
Tudo se desmoronara,e agora ali estava ele,a viver um dia de cada vez,tendo como única preocupação a sobrevivência do dia a dia,a sua casa eram as ruas daquela cidade onde sempre vivera,as únicas que não o abandonaram,quando todos os que o rodearam se afastaram,como quem se salva de um barco que naufraga.
De mão estendida,olhar vazio,uma lágrima de revolta,escorreu pela face,que ele rapidamente limpou,na manga do casaco,já gasto e usado.
Era a única coisa que trazia consigo de valor,o seu orgulho,mesmo agora não deixava que ele desse lugar a ter pena de si próprio ou pior ainda á pena dos outros.
Recolheu a mão que estendia,encostou-se a parede fria do prédio,deixou-as ficar junto ao corpo,e ali ficou com o olhar perdido,agora,olhando em frente,sem nada ver,a não ser a vida,essa que vai passando,sem pausas ou tréguas de qualquer espécie. 

A vida tem destas coisas...a nossa insignificância no universo
e o quanto,a nossa,importância,(pensamos nós ter),é tão ténue para quem nos rodeia.

J.C.(2015)
    

6 comentários:

  1. Belíssimo texto de Páscoa... emocionante....lindo.. de profundo teor cristão.... de profunda sabedoria e amor ao próximo.
    Mago... hoje você nos deu uma aula de amor cristão!!!

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    1. Não partilhando eu dessa tua fé,meu amigo PDR,(sou ateu),acredito que é uma lição de vida,tem certamente algo meu,e que ja senti,e muito do que observo nesta vida.A vida esta la fora,e os problemas reais e sérios também,há que ver com olhos sem filtros ou ideias pré concebidas para que possamos todos,melhorar um pouco o que podemos a nossa volta.

      Um Feliz domingo da Pascoa para ti,caro amigo,abraço

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  2. Respostas
    1. Sim minha querida Inês,uma reflexão que merece ser feita,porque a vida muda quando menos esperamos,para nos mostrar,o quanto estávamos errados nas nossas "certezas" para a vida.

      Beijinho meu em ti

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  3. Um texto belíssimo, uma lição de vida.
    Gostei bastante.

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    1. Obrigado Luana pelas tuas simpáticas palavras.
      É um gosto ter a tua visita,aparece sempre que desejares :)

      Beijinhos

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