terça-feira, 20 de outubro de 2015

ESPAÇO Á POESIA DOS ..OUTROS

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.

CARLOS DRUMMOND de ANDRADE

8 comentários:

  1. Amo Drummond. Ótima escolha.
    Deixo beijos

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  2. A boca... hum boca terrível e maliciosa, quão mimosa e ousada!

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  3. Nem sabia que o citado poeta fazia poesias eróticas! Singela e sensual!!

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    Respostas
    1. Eu nem o conhecia,foi através de algumas leituras de poesia erótica que o descobri :))

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